Os modelos de trabalho flexível estão a tornar-se cada vez mais atraentes, especialmente para as gerações mais jovens. São a promessa de um estilo de vida ideal, no qual qualquer pessoa pode escolher quando trabalhar e quando aproveitar algum tempo livre, tal como o local onde é mais produtivo em cada tipo de tarefa. De facto, estudos mostram que 70% da geração Millennial acredita que o trabalho flexível tornam o trabalho mais atraente, enquanto 81% das mulheres dizem o mesmo. Será que o trabalho flexível é uma solução para os principais desafios do capital humano de hoje, ou é apenas um “isco” para atrair Millennials relaxados?
Tipos de trabalho flexível
Existem muitos nomes e tipos de trabalho flexível, o que tende a causar alguma confusão. Aqui estão os 8 principais:
- Part-time: trabalhar menos do que as horas normais, normalmente metade do horário de 8 horas por dia.
- Flex-time: o número de horas de trabalho é definido pelo empregador e os colaboradores podem entrar e sair quando quiserem.
- Trabalho Remoto/Telecommunicating/Telecommuting /Flex-place: os colaboradores podem trabalhar fora do escritório, seja em casa ou em outro local, como um café ou um parque.
- Annualized hours: espera-se que os colaboradores trabalhem por um determinado número de horas durante um ano, mas as horas em que trabalham são flexíveis.
- Compressed hours: os colaboradores trabalham por um determinado período semanal, que pode ser “compactado” em menos dias úteis.
- Staggered hours: diferentes horários de início, pausa e final de trabalho para diferentes tipos de colaboradores.
- Flexible leave/Flexible paid time off: os colaboradores têm um maior nível de flexibilidade para escolher o tipo de folga que precisam, quer seja para celebrar feriados religiosos especiais ou aniversários, ou para pausas para a saúde mental ou dias de bem-estar.
- Licenças Sabáticas: os colaboradores podem tirar um período de tempo acordado, sem receber remuneração, mas com a segurança de poder retornar àquele posto de trabalho. Essa opção é comum nas Universidades, nas quais os professores solicitam um ou mais semestres para trabalhar no exterior ou em um tópico diferente de investigação, tal como em grandes consultoras, onde os colaboradores são aconselhados (e às vezes até obrigados) a levar seis meses a um ano de folga, para um MBA ou uma experiência de voluntariado.
Vantagens e Desvantagens, para trabalhadores e empresas
Independentemente do tipo de trabalho flexível, pode-se identificar muitas vantagens e desvantagens desse arranjo, tanto para trabalhadores quanto para empresas. Aqui estão os mais relevantes:
|
Para os colaboradores |
Para as empresas |
Principais vantagens
|
|
|
Principais desvantagens
|
|
|
Ao observar esta lista de vantagens e desvantagens para ambos os lados, fica claro que ambos ganham e perdem com este tipo de trabalho. Cinco tópicos aparecem nessa comparação que precisam ser melhor analisados:
- Tipo de trabalho - nem todas as profissões são adequadas para trabalhar de forma flexível. Os mais óbvios são aqueles que lidam com clientes diariamente, como assistente de loja, prestador de serviços de saúde, professores e trabalhadores de segurança. Outras profissões de trabalho manual, como construção, produção, desporto e artes, também não se aplicam a esse tipo de trabalho. E não esqueçamos todos os trabalhos de escritório que exigem alta intensidade de colaboração, discussão e brainstorms - pode ser difícil realizá-los em casa ou em horários irregulares.
- Produtividade e Autogestão – será que o trabalho flexível aumenta a produtividade? Essa é a grande questão a ser feita. A resposta não é clara e depende principalmente da autogestão dos funcionários, pois eles têm o controlo sobre o seu trabalho. Se eles são disciplinados e responsáveis, eles têm a oportunidade de fazer malabarismos com todas as suas responsabilidades profissionais e pessoais, no seu próprio ritmo e espaços favoritos. No entanto, se tendem a procrastinar e relaxar, vão acabar por acumular trabalho, ser menos focados e, possivelmente, baixar a qualidade do seu trabalho. Além disso, é importante mencionar que as pessoas ao seu redor podem não respeitar a sua gestão do tempo, como familiares e amigos que pedem favores no horário de trabalho, e chefes que ligam com pedidos em tempo para a família. Todos precisam de limites, até mesmo os trabalhadores flexíveis!
- Liderança - não é fácil mudar de uma função tradicional de “supervisor”, na qual os gerentes estão habituados supervisionar tudo o que seus funcionários fazem, para um novo estilo de coordenação, à base da delegação e do coaching, o que requer um elevado nível de confiança. Nem todos os trabalhadores estão preparados para essa adaptação no estilo de liderança, e nem todos os gerentes conseguem fazê-la rapidamente. Além disso, esta mudança dificulta a avaliação e compensação de forma justa para os funcionários que trabalham em diferentes modelos, especialmente se a empresa não alterar os critérios de avaliação.
- Suporte ao cliente - não está claro se o trabalho flexível beneficia os clientes ou não. Por um lado, os trabalhadores têm horários mais flexíveis e podem estar disponíveis para prestar apoio fora do expediente. Por outro lado, a maioria dos clientes acharia estranho quando não conseguisse apoio no horário normal de trabalho.
- Engagement dos colaboradores - não há dúvida de que o trabalho flexível atrai candidatos e, certamente, respeita seu próprio tempo e ritmo - mas será que promove o seu engagement? Como podem os gestores saber se os colaboradores estão engaged, se dificilmente os veem? E como criar relacionamentos fortes entre colegas de trabalho, se a comunicação é feita principalmente por dispositivos eletrónicos? Estes são desafios com os quais as empresas terão de lidar diariamente e soluções devem ser encontradas para enfrentá-los, tal como sessões regulares de coaching com os gerentes, eventos para os funcionários se conhecerem, atividades de team building e muitos outros.
Como fazer o trabalho flexível funcionar?
Existem várias formas de promover uma cultura produtiva de trabalho flexível. Estas são algumas deles:
- Reflita se a cultura e o modo de trabalho da sua empresa podem acomodar o trabalho flexível - se for uma empresa muito hands-on ou se tiver uma cultura muito tradicional, com funcionários mais velhos, talvez esse não seja o tipo certo de trabalho no qual investir.
- Entenda o propósito, os valores e as prioridades da sua empresa e como o seu trabalho se relaciona com eles. Dessa forma, também poderá priorizar e construir um senso comum sobre o que é aceitável e o que não é.
- Estabeleça expectativas claras e regras simples para trabalho flexível - como partilhar as tarefas pelas quais cada funcionário é responsável, em quais datas devem estar finalizadas, como e quando se deve comunicar, etc. Pode também definir os dias principais ou horários principais durante os quais todos devem estar no escritório para reuniões e outros compromissos.
- Crie uma cultura de confiança e de accountability - partilhe a responsabilidade com os colaboradores e mostre que confia neles para tomar as decisões certas para beneficiar a empresa. Dê-lhes feedback regular e ofereça-lhes coaching, a fim de ajudá-los a crescer e desenvolver competências, ao mesmo tempo em que eles trazem valor à empresa.
Concluindo, os modelos de trabalho flexíveis podem ser uma situação vantajosa tanto para empresas quanto para empregados, se - e só se - ambos os lados promoverem uma cultura positiva de confiança, responsabilidade e respeito pelas necessidades de cada pessoa. Se acredita que sua empresa e seus colaboradores são capazes de o fazer, deve, sem dúvida, participar da Revolução do Trabalho Flexível!
Inês Andrade | Marketing Manager at Bright Concept