Para vos falar sobre a origem do coaching, sugiro começarmos por fazer uma viagem à Grécia e recuarmos no tempo cerca de 2400 anos. Podemos então subir aos ombros dos gigantes Sócrates, Platão e Aristóteles!
A Origem do Coaching
Embora não utilizassem a palavra “coaching”, os seus pressupostos são os do atual coaching, podendo assim considerar-se que é nestes filósofos que estão as suas raízes mais profundas. Sócrates, Platão e Aristóteles tinham um objetivo comum, que é o mesmo do coaching: viver a vida mais digna de ser vivida.
Platão considerava que a procura de uma vida plena como pessoa, com o que isso supõe para a felicidade própria e a dos outros, era muito difícil de fazer sozinho. Dizia que era muito melhor quando se tinha «alguém» — atualmente, o coach — que nos ajudasse a conhecer melhor e a desenvolver os hábitos que permitem a sua realização. A conceção platónica do que é a educação — e que nos nossos dias é o coaching— baseia-se mais em tirar do que em pôr conhecimento. Cada homem possui dentro de si mesmo uma parte da verdade, mas para poder descobri-la requer alguém que lhe dê a mão.
De acordo com Aristóteles, a verdadeira felicidade é alcançada quando as pessoas desenvolvem todas as suas capacidades. O nosso objetivo de vida é perseguir o bem-estar através da prática e do desenvolvimento de virtudes, ou seja, dos nossos valores e modelos de comportamento. Aristóteles escreveu que uma coisa é «o que somos», enquanto outra, bem diferente, é o que podemos «chegar a ser». No coaching, o foco também é que o coachee descubra e desenvolva as suas capacidades e que, assim, tenha uma vida feliz.
Sócrates criou o método socrático definido por questões abertas para estimular o insight e a autoconsciência. Este método consiste em fazer uso de perguntas simples e quase ingénuas que têm por objetivo revelar as contradições presentes na atual forma de pensar do outro e, assim, auxiliá-lo a redefinir os valores, aprendendo a pensar por si mesmo. Ele fazia os seus interlocutores discernirem por conta própria as falhas e fraquezas do seu raciocínio. No coaching, a metodologia de base também passa pelas perguntas abertas, com o objetivo de o coachee descobrir a sua verdade por si próprio, conectar-se com a sua essência, extraindo o seu melhor e ampliando os seus horizontes.
Embora estes filósofos tenham sido bastante reconhecidos ao longo da história, a aplicação destas ideias teve pouca expressão até há poucos anos.
Mas, antes disso, façamos uma nova viagem para descobrirmos a primeira utilização da palavra “coaching”. Vamos então para o século xviii, para Oxford. Nessa altura, os nobres universitários de Inglaterra iam para as aulas nas suas carruagens, conduzidos por cocheiros chamados “coachs”. Por volta de 1830, o termo “coach” passa a ser utilizado informalmente na Universidade de Oxford para denominar o tutor particular, aquele que conduz e prepara os estudantes para os seus exames. Atualmente, usamos o termo coaching também para descrever uma viagem, mas que é muito mais abrangente, já que leva o coachee a exceder os seus objetivos, visões e sonhos na sua vida pessoal e profissional.
Proponho uma última viagem, agora para Harvard, quarenta anos atrás. Aí, vamos conhecer o que muitos consideram o pai do coaching atual – Timothy Gallwey. Observemos como ele treinava os seus alunos de ténis. Em vez de dar instruções técnicas, ele ajudava o jogador a remover ou a reduzir os obstáculos internos à sua performance. E o jogador passava a ter uma inesperada habilidade natural para aprender! Timothy Gallwey publica então o livro The Inner Game of Tennis, o qual, graças ao seu sucesso fora do mundo do ténis, foi rapidamente seguido por The Inner Game of Golf, Inner Skiing e, mais tarde, por The Inner Game of Work. Esta proposta de mudança de abordagem não foi muito bem recebida pelos professores, pois sentiam-se postos em causa, mas agradou muito aos alunos. Timothy Gallwey estava a salientar a essência do coaching – despertar o potencial das pessoas para maximizar a sua performance. No fundo, seguia a forma natural e inata de aprendermos, que muitas vezes é perturbada pelas instruções que recebemos. Os livros de Tim Gallwey coincidiram com o advento de modelos psicológicos mais humanistas quando comparados com o modelo behaviourista, que pressupunha que os seres humanos eram como uma tábua rasa na qual tudo era impresso pelo exterior. Para Timothy Gallwey, as pessoas são como sementes, cada uma contendo dentro de si todo o potencial para ser uma magnífica árvore. Precisamos de encorajamento e luz para chegar lá, mas a árvore já está dentro de nós.
A passagem do desporto para as empresas foi rápida. John Whitmore, muito conhecido atualmente pelo modelo GROW, foi aprender com Timothy Gallwey e, juntos, criaram The Inner Game in Britain. Aí, os clientes desportistas começaram a perguntar-se se poderiam aplicar o mesmo método nos assuntos das suas empresas, e assim nasce o coaching nas empresas – há cerca de trinta anos.
Desde essa altura, podemos ver que o coaching tem-se desenvolvido de modo exponencial e alargado em vários contextos. Os coaches foram buscar vários conceitos e técnicas à psicoterapia sistémica, nomeadamente aos trabalhos da equipa de Palo Alto e a Milton Erickson, e ainda às psicoterapias cognitiva e comportamental, também centradas no presente e futuro, e com foco em soluções rápidas. A Programação Neurolinguística criada por Bandler e Grinder é também uma fonte de numerosas técnicas utilizadas no coaching. A ICF – International Coach Federation – tem profissionalizado esta atividade desde há vinte anos, definindo as boas práticas, o código de ética e as competências necessárias para um coach profissional.
O que não é o Coaching
A condução de um processo de coaching parece ser muito simples. No entanto, na supervisão de coachings, verificamos que a maioria dos coaches não segue todos estes princípios, acabando por fazer mentoring, terapia, consultadoria ou formação.
Uma vez que o coaching é ainda muito recente como disciplina autónoma e pouco conhecido do público em geral, as expectativas dos clientes também ajudam a que o coach se esqueça de cumprir os princípios do coaching. Com efeito, nas empresas, os clientes têm muitas vezes a expectativa de que o coaching seja sinónimo de mentoring, consultadoria ou formação. As pessoas que pedem coaching de vida têm também muitas vezes a expectativa de que seja um processo parecido com a psicoterapia.
Na realidade, em todas estas atividades, há pelo menos dois pontos em comum com o coaching:
- Existe uma relação de suporte do profissional para o indivíduo ou equipa em desenvolvimento.
- O objetivo é melhorar a performance.
No entanto, os quatro princípios descritos anteriormente não costumam ser utilizados nestas atividades, embora atualmente já se integrem as técnicas de coaching em todas elas.
Analisemos então as diferenças do coaching com outras profissões de suporte pessoal ou organizacional, de maneira a perceber melhor o que não é o coaching.
Terapia: A terapia lida com disfunções e conflitos dentro de um indivíduo, ou nos seus relacionamentos, e com a cura do sofrimento. O foco é sobre como lidar de uma forma mais saudável com as atuais dificuldades emocionais decorrentes do seu passado e melhorar o funcionamento psicológico geral. No coaching, por outro lado, o foco é posto no sucesso pessoal ou profissional e, para isso, apoia o crescimento pessoal e profissional com base na mudança iniciada pelo próprio. Em vez de se centrar no passado, trabalha o presente, projetando o futuro (Lages et al., 2007). Em vez de se centrar no sofrimento, centra-se na criação de estratégias para atingir as metas específicas. A ênfase no coaching está na ação, na responsabilidade e no seguir em frente.
Consultadoria: Os consultores são contratados devido à sua expertise. O pressuposto é de que o consultor irá diagnosticar os problemas e prescrever e, às vezes, implementar soluções. Com o coaching, o pressuposto é de que os indivíduos são capazes de gerar as suas próprias soluções, e o papel do coach é dar suporte e facilitar essa descoberta. A consultadoria está também mais focada na organização como um todo e não nos indivíduos em particular, enquanto o coaching se foca no indivíduo ou na equipa, ainda que seja para resolver problemas organizacionais.
Mentoring: Um mentor é um especialista que dá sabedoria e orientação com base na sua própria experiência. O mentoring pode incluir a metodologia de aconselhamento e a metodologia de coaching. O coaching, pelo contrário, não inclui aconselhamento e concentra-se na forma como o indivíduo ou a equipa podem definir e alcançar os seus próprios objetivos. O efeito do coaching não é, assim, dependente de um profissional mais experiente que transmite o seu conhecimento. O coaching requer expertise em coaching, mas não no assunto que se está a tratar. Essa é uma das suas maiores forças, pois fortalece a confiança do coachee em si próprio.
Formação: Os programas de formação são baseados em objetivos definidos pelo formador, atingidos através de um caminho linear e preestabelecido de aprendizagem. Pelo contrário, os objetivos no coaching são definidos pelo coachee, e o caminho para lá chegar é menos linear, sendo também estabelecido pelo coachee. Além disso, segundo vários autores (Krausz, 2007; O’Connor e Lages, 2007; Rego et al., 2007), a formação assenta num processo de aprendizagem e aquisição de conhecimentos, enquanto o coaching visa o desenvolvimento de competências de inteligência emocional e é um processo de mudança do indivíduo.
Treino desportivo: Apesar de se utilizar a palavra coach para denominar o treinador desportivo, e de o coaching ter tido o seu início neste meio, no desporto, a prática mais seguida não é a de coaching, mas sim a de professor. Geralmente, o treinador desportivo é visto como um especialista que orienta e dirige o comportamento do indivíduo ou da equipa com base na sua maior experiência e conhecimento. Os treinadores desportivos tendem ainda a concentrar-se nos comportamentos que estão a ser mal executados, ao contrário dos coaches, que se concentram na identificação de oportunidades de desenvolvimento baseadas nas forças do indivíduo.
Conclusão
Como vimos na nossa viagem ao longo do tempo, os conceitos de coaching emergiram em meios onde o conhecimento atingia o seu apogeu: nos filósofos da antiga Grécia, na Universidade de Oxford e em Harvard.
Atualmente, a atividade de coaching está cada vez mais democratizada, sendo utilizada principalmente nas empresas com altos desempenhos, tanto por coaches profissionais como pelas próprias chefias que utilizam o estilo de liderança coaching. Ao longo destes quase quinze anos em que tenho feito coaching, vou-me deslumbrando com a sua expansão em Portugal e no mundo. O coaching é cada vez mais uma forma de se relacionar com o outro, de pensar e de ser. Já se veem professores, pais, médicos e comerciais a usarem quando necessário as competências de coaching e o estilo coaching.
Como diz John Whitmore: “O coaching como uma prática nos negócios está para ficar, embora a palavra possa desaparecer quando os seus valores, crenças, atitudes e comportamentos se tornarem norma para toda a gente.” Estamos curiosos para ver isso acontecer.
Adaptação do 1º capitulo do livro: "Coaching: Ir mais longe cá dentro", ICF Portugal (International Coach Federation), co-autora Isabel Freire de Andrade
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