Já alguma vez ponderou entre duas escolhas, igualmente difíceis, e soube quase como se fosse magia, escolher a correta? O processo de escolha pode não ter sido óbvio, mas o seu cérebro soube interpretar pequenas pistas, que podem até mesmo ter passado despercebidas pelo seu cérebro racional. Este processo, muitas vezes visto como sobrenatural, é a intuição.
A intuição dá-lhe uma visão global das situações e várias áreas da sua vida dependem dela. Em especial, esta área é verdadeiramente apreciada nos negócios. Num estudo recente, onde foram inquiridos 93 vencedores do Prémio Nobel dos últimos 16 anos, 82 admitiram que a intuição desempenha um papel importante nas descobertas científicas e criativas. Este estudo, e outros como este, levaram a que cada vez mais empresas de excelência procurem desenvolver nos seus colaboradores esta competência porque estes rasgos de intuição economizam, em determinadas situações, muito tempo e dinheiro.
O que é a intuição?
A intuição é a reação rápida e não consciente de todas as pistas de ameaça ou recompensa (Gordon, 2016). Por outras palavras, o seu cérebro processa de modo racional os detalhes que o seu instinto (fuga-luta) automaticamente reconhece e comunica verbalmente e rapidamente as soluções. Essas soluções surgem na comparação constante que o cérebro executa entre a situação em se encontra, situações anteriores semelhantes, conhecimento passado e variáveis do presente.
Vejamos o seguinte exemplo, sobre escolher entre duas opções difíceis:
- Quando se depara com as duas opções, automaticamente o seu instinto de luta-fuga faz uma leitura rápida da situação.
- “Esta opção irá trazer sucesso?”; “Iremos ganhar se escolhermos a opção B?”
- Essa leitura é então comparada com o seu conhecimento/experiências passadas.
- Irá aqui ler as pistas das opções – uma frase que lhe chamou a atenção, uma palavra que lhe despertou curiosidade…
- O seu cérebro explora todos os detalhes e processa-os e utilizando uma série de “relações condicionais” que chamam a nossa atenção para os resultados a que poderiam conduzir determinadas ações.
- Por fim, racionalmente indica-lhe a ação mais provável – “Se escolher a opção B, vou ter sucesso!”.
Este processamento acontece em diferentes áreas e situações da sua vida, desde “pressentir” quando o projeto em que trabalha será bem recebido pelo seu chefe, a preparar-se minutos antes de uma criança ter uma birra, ou, a desviar-se segundos antes de embater contra alguém.
O “sexto sentido” intuitivo, com a sua capacidade espetacular de processamento, aumenta a precisão, a eficácia do processo de tomada de decisão e a confiança na mesma.
Medir a sua intuição
A intuição é ainda identificada como uma das 8 funções psicológicas identificados por Carl Jung. A tipologia de Jung cria um quadro teórico sobre os tipos de personalidade e desenvolve o autoconhecimento e a melhoria das relações humanas. Dentro desta teoria, Jung, identificou a intuição como uma das funções – ou seja, o modo como uma pessoa lida com o mundo (interno e externo), dentro das suas próprias preferências e nível de conforto.
Segundo a definição de Jung, Intuição, é um tipo de perceção, que funciona fora do processo consciente usualmente utilizado. É irracional, mas vem da integração complexa de grandes quantidades de informação, em vez de simplesmente ver ou ouvir.
Nesta definição, as pessoas intuitivas vivem focadas no futuro, imersas num mundo de possibilidades. Processam informação através de padrões e impressões que tiram do seu ambiente. São atraídas por ideias profundas, conceitos abstratos e metáforas, valorizando a inspiração e a imaginação. São as pessoas que conseguem claramente ler nas entrelinhas. São também analíticos e capazes de observar o mundo por uma lente mais abrangente (the big picture).
Pegando na teoria de Jung, Katharine Briggs e a sua filha Isabel Briggs Myers desenvolveram um diagnóstico sobre a personalidade das pessoas: o MBTI - Myers-Briggs Type Indicator. O acesso a este teste permitiu, não só medir a intuição e os outros tipos psicológicos de Jung, como também permitiu obter dados estatísticos mundiais sobre a diferenciação de pessoas de acordo com a tipologia de Jung. Por exemplo: através do Myers-Briggs sabemos que cerca de 30% da população é identificada com a Função Intuição. Será uma dessas pessoas? Se quiser saber qual o seu tipo MBTI, e se é intuitivo, contacte-nos.
O Myers-Briggs Type Indicator é também usado em programas empresariais, como gestão de talento, mudança de cultura, construção de equipas e desenvolvimento de liderança.
Os benefícios de ser intuitivo:
Cada vez mais estão a ser descobertos motivos para incentivar a procura de pessoas intuitivas, para todas as áreas de negócios. E há uma razão para isso. Segundo Chopra & Tanzi (2017), pessoas intuitivas:
- Tomam decisões rápidas e acertadas.
- Captam expressões faciais subtis.
- Confiam na introspeção (saber-se algo diretamente sem se esperar que a razão chegue a uma conclusão).
- Dão saltos criativos.
- São boas a fazer juízos sobre pessoas – sabem ler as pessoas.
- Confiam e seguem o seu primeiro instinto nos julgamentos rápidos.
Para além da já mencionada poupança de tempo, este tipo de benefícios pode levar a uma maximização da produtividade – “não perco tempo com ideias que não funcionam” – e na construção de relações de confiança.
Num exemplo mais específico, a intuição pode ser a diferença entre sobreviver ou não! Um estudo recente (2014) do Office of Naval Research, que tinha como objetivo estudar a intuição para militares, percebeu que a intuição enquanto competência estava ativamente a prevenir casualidades de guerra e combate como comprovado pelos relatórios de militares que indicavam momentos como: “algo me disse para sair do caminho” ou “Houve um 6º sentido que me disse para sair dali”. Em resultado, este estudo, propôs-se a treinar e ensinar estas competências precognitivas de modo a anteciparem-se a atiradores, bombas e outros ataques.
Esta competência é parte da inteligência emocional e como tal uma boa intuição trará benefícios às suas competências emocionais como a Empatia, a Criatividade, o Controlo emocional (a intuição evita o acumular de emoções e pensamentos negativos) e Autoconhecimento (ao ouvir o seu subconsciente, está a descobrir as verdades ocultas sobre si mesmo e as situações em que se encontra).
A intuição é ainda essencial na resolução de problemas – o que a torna uma capacidade muito procurada pelas empresas. Pessoas que usam a intuição na resolução de problemas têm uma visão mais clara da situação, obtendo informação e ideias mais criativas e significativas e, como tal, mais eficientes. É também eficaz para reduzir o stress e a ansiedade ao identificar e lidar com problemas de forma mais eficaz e com uma perspetiva mais completa, o que por sua vez o ajuda a tomar decisões melhores e mais integradas.
Intuição e liderança
Como já mencionado, a intuição é agora um dos elementos procurados nas empresas como um modo de elevar a inovação e a visão big-picture. É também crucial para uma liderança eficaz. Bonnie Marcus explica a importância da intuição para a liderança do seguinte modo: “A investigação em neurociência diz-nos que o armazenamento na memória de trabalho é limitado. Precisamos de informações de todas as partes do cérebro para gerir decisões altamente complexas.”
Segunda a revista LIDER, a “conectividade espiritual e a inteligência intuitiva são apontadas como duas das principais características a desenvolver pelos líderes do século XXI.” E, líderes como Steve Jobs e Arianna Huffington já o sabem.
Steve Jobs, descobriu o poder da intuição durante as suas viagens à India. Durante essas viagens, Jobs ficou fascinado com a cultura espiritual e não materialista, que usava a intuição. Essa curiosidade sobre esta cultura intuitiva, influenciou a sua ética de trabalho, levando-o a estudar diferentes áreas (que não a sua) e ler livros de temas variados. Embora essa divergência do seu caminho pareça estranha, foram esses desvios intuitivos que o levaram a desenvolver a sua companhia APPLE e o levaram a transformá-la numa empresa futurista de topo.
Mas, Jobs não foi o único que viu o valor da intuição para a liderança. De acordo com Rick Snyder (autor do livro Decisive Intuition: Use your Gut Instincts to Make Smart Business Decisions), fazer uso da intuição é o modo mais eficiente de gerir o seu negócio e carreira, pois as melhores decisões ocorrem quando integra a intuição com o pensamento crítico. A intuição demonstra uma inteligência que é capaz de ler uma situação rapidamente – como um mercado em constante mudança –, tomar decisões com uso de vários recursos, e extrair informação e dados muito mais rapidamente do que a mente consciente consegue analisar.
Isto não quer dizer que se deve abandonar a lógica a favor da intuição, mas sim saber quando ouvir uma em detrimento da outra. O mundo dos negócios está repleto de regras, mas quando a intuição o avisa sobre algum perigo, deve dar tempo para a ouvir e tomar a ação necessária. Aliás, a lógica surge muitas vezes para explicar raciocínios intuitivos, como por exemplo, decisões morais que toma num segundo e que mais tarde consegue justificar de um modo lógico e racional.
Líderes intuitivos têm também uma vantagem competitiva porque são mais rápidos, mais sábios, e mais determinados:
- Um líder intuitivo não tem medo de tomar decisões.
- Embora este tipo de líder não se apresse a tomar uma decisão, ele exercita a sua intuição ao permitir que a sua mente inconsciente considere as opções antes de dar a sua resposta.
- O líder intuitivo tem um sistema de segurança que o alerta sobre quando as coisas estão a correr mal.
- O seu sistema de alerta diz-lhes em quem confiar.
- O líder intuitivo abre-se ao mundo.
- Usando a intuição, os seus pontos de vista e perceções são muito mais vastos e conseguem ver mais facilmente a progresso dos seus projetos.
E, tal como nos lembra a autora Sue Hawkes (Chasing Perfection: Minimize Self-Doubt and Maximize Success) : “Quando está realmente alinhado - mente, corpo, espírito e intelecto - está aberto e recetivo a coisas maiores (…) É aí que corre os riscos (…) É quando a inovação acontece”.
Como desenvolver a sua intuição
Há várias formas de melhorar a sua intuição, desde exercidos mentais ou físicos, a formação. O importante é dedicar-se de facto a explorar o seu lado intuitivo!
Para melhorar a sua intuição precisa de explorar abertamente todas as suas dimensões:
- Procure Simbolismo – provavelmente já ouviu frases como “nada de bom acontece a uma sexta” e pensou para si mesmo que era uma superstição estranha. Mas, estas superstições são baseadas em simbolismos reais.
- Pense na sua vida – Há algo que outros vejam como irracional, mas que para si, tenha sentido? (por exemplo: voltar atrás para voltar a abrir e fechar uma porta antes de sair de casa) Porque é que isso tem sentido para si? Porque é que o continua a fazer? Que sinais o seu corpo e mente estão-lhe a dar para que continue a fazer isso? Que outros sinais pode estar a ignorar?
- Abra-se à Imaginação – É provável que quando lhe pedem para pensar numa pessoa intuitiva, pense em alguém criativo – como um artista, um músico ou até mesmo um cientista famoso. Pessoas intuitivas estão mais abertas à criatividade e imaginação. Esta é uma relação circular – quanto mais treinar a sua intuição mais terá momentos de “Eureka” e quanto mais treinar a sua criatividade mais abrirá o seu inconsciente para que a sua intuição fale consigo.
- Desafie-se a si mesmo a fazer algo criativo – pintar, desenhar, escrever. Pode começar com dificuldade (ex: Não sei que desenhar, nada do que escrevo sai bem…), mas quanto mais insistir mais está a treinar o seu cérebro a processar todos estes conhecimentos novos – e mais depressa chega à solução.
- Abra-se ao conhecimento – a intuição é descrita como o processamento de várias ideias e quanto mais ideias e conhecimento tiver, mais o seu cérebro terá para construir saltos intuitivos de excelência. Pense na personagem de Sherlock Holmes: podemos usá-lo como um exemplo de excelente intuição baseada em conhecimento. Sherlock era um mestre de várias artes, o que o permitia fazer saltos intuitivos lógicos com uma grande rapidez.
- Considere aprender algo novo como uma língua nova, uma disciplina que lhe deu curiosidade (nunca quis saber sobre mais sobre dinossauros?), ou até mesmo um hobby novo – Comece já!
- Faça ligações – olhe para o seu passado e procure as ligações entre o que aconteceu, os seus pensamentos e ações.
- Mantenha um diário de momentos em que a sua intuição falou consigo, e estude essas reações. Questione porque disse ou fez aquilo e veja como pode recriar para o futuro. (por exemplo – o que se passava consigo no dia em que a sua intuição o impediu de ser assaltado e o fez voltar atrás e fechar a porta? Pode recriar esse processo mental?)
- Lembra-se do estudo militar do Office of Naval Research? Os militares criaram um treino da competência intuitiva que procurava de modo ativo, entender as ligações (entre pessoas, lugares ou eventos) que pudessem antecipar as trajetórias e modos de agir de forma eficaz.
Sugiro ainda que se dedique ao Mindfulness. Pessoas intuitivas olham para o presente como uma oferta gigante de informação que lhes permite fazer saltos intuitivos, silenciando as vozes internas que não lhes interessa (o barulho de fundo que impede o absorver da situação). Nada no seu ambiente é desperdiçado como não importante, mas sim como uma arma que lhes permite alcançar uma solução. Exercite a sua presença com Mindfulness: acalme o seu cérebro hiperativo e atinja a atenção plena aos acontecimentos. Comece o seu treino de Mindfulness com exercícios com o uso de aplicações como o Headspace e Serenity.
O equilíbrio da intuição
Lembre-se: tal como qualquer capacidade, a intuição pode ficar desequilibrada.
- Se for demasiado confiante nos seus palpites intuitivos, deixará de ver a razão quando ela for relevante.
- Pense nas pessoas que avançam claramente em situações de perigo, seguros na sua intuição. Essa confiança extrema, conduz a situações impulsivas e comportamento irracional.
- Vejam por exemplo a história de An Wang. An, fundadora da empresa de eletrônica Wang, insistiu na criação de um sistema operacional proprietário para o computador pessoal da sua empresa, mesmo quando já era claro que o IBM PC estava a tornar-se o padrão da indústria. Hoje, a empresa já não existe.
- Pense nas pessoas que avançam claramente em situações de perigo, seguros na sua intuição. Essa confiança extrema, conduz a situações impulsivas e comportamento irracional.
- Se ignorar a sua intuição, perderá a capacidade de sentir as situações.
- Veja, por exemplo as pessoas que ignoram o seu 6º sentido por completo e perderam as pistas sociais que permitia navegarem o mundo com segurança.
- Usem a história de Ross Perot como uma lição – em 1979, Perot teve a oportunidade de comprar a Microsoft por 40 milhões de dólares. Embora a sua intuição lhe tenha mostrado que esta era uma oportunidade de ouro e muito atraente, recusou-se a pagar aquele preço, por uma empresa que ainda não tinha alcançado o pico de sucesso. Hoje, essa é uma decisão que ainda se arrepende.
- Veja, por exemplo as pessoas que ignoram o seu 6º sentido por completo e perderam as pistas sociais que permitia navegarem o mundo com segurança.
Exercite a sua intuição de um modo equilibrado e prepare-se para ver um mundo novo cheio de oportunidades e soluções que nunca antes concebeu.
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Inês Cabral | Project Manager
Bibliografia
https://www.boldermoves.com/intuition-leadership/
https://www.cnbc.com/2018/05/23/how-to-trust-your-intuition-like-apple-co-founder-steve-jobs.html
https://lidermagazine.sapo.pt/liderar-na-era-da-intuicao/
https://www.essentiallifeskills.net/develop-your-intuition.html
https://medium.com/swlh/make-intuition-your-superpower-d7b385dcfb57
https://time.com/4721715/phenomena-annie-jacobsen/
https://webspace.ship.edu/cgboer/jung.html
https://www.bbc.com/future/article/20180525-should-you-trust-your-gut-feelings
Gordon, E. (2016). The Brain Revolution: Know and Train New Brain Habits. Dog Ear Publishing [E-Book].
Chopra, D. & Tanzi, R. E. (2017). Super Cérebro. Liberte o poder explosivo da sua mente para maximizar a saúde, felicidade e o bem-estar espiritual. 4ª Edição, Self – Desenvolvimento Pessoal.